Os Encontros de Formação de Operadoras e Operadores de Direitos Étnicos e Coletivos com enfoque Kilombola, que tiveram início em 16 de outubro, tiveram sua primeira etapa presencial nos dias 09 e 10 de novembro na Comunidade Kilombola de Palmas, em Bagé (RS), após três encontros online, ocorridos nos dias 16, 23 e 30 de outubro.
Ainda está previsto uma segunda etapa presencial em dezembro e seis etapas online até fevereiro de 2025. Os encontros integram um processo de formação promovido pelo Comitê dos Povos e Comunidades Tradicionais do Pampa em parceria com a Associação Remanescente de Quilombo Ibicuí da Armada, Associação das Comunidades Quilombolas Rurais de Palmas, Núcleo de Defesa de Direitos de Povos e Comunidades Tradicionais do Instituto Federal do Paraná (NUPOVOS-IFPR) Campus Paranaguá e conta com o apoio da Fundação Luterana de Diaconia (FLD) e do Fundo Brasil de Direitos Humanos (FBDH) por meio de um projeto apresentado pelo Comitê e aprovado no edital Raízes “Comunidades Tradicionais Lutando Por Justiça Climática”.
O processo de formação tem reunido diversas representações de Povos e Comunidades Tradicionais do Pampa de diferentes municípios do bioma, sendo a maioria delas de comunidades kilombolas. Estiveram presentes na primeira etapa presencial cerca de 50 pessoas de dez municípios, das comunidades kilombolas de Algodão (Pelotas); Boqueirão, Coxilha Negra e Picada (São Lourenço do Sul); Ibicuí da Armada (Sant’Ana do Livramento); Maçambique (Canguçu); Palmas (Bagé); Rincão dos Negros (Rio Pardo); Vila da Lata (Aceguá); e Vila do Sabugueiro (General Câmara). Também estiveram presentes no encontro representantes das identidades do Povo Cigano (São Leopoldo), de Povo de Terreiro/ Povo Tradicional de Matriz Africana (São Lourenço do Sul) e da Pecuária Familiar Tradicional do Pampa (Quaraí).
Por meio da oralidade, da memória, de simbologias e de gravações audiovisuais realizadas pelas próprias pessoas participantes, o encontro presencial teve como temática o fortalecimento da identidade coletiva kilombola, considerando o processo histórico de violências, negação de direitos e racismos estrutural e cotidiano – que ainda perdura nos tempos atuais – e que resultou na usurpação dos territórios tradicionais kilombolas. A reflexão sobre a questão territorial também foi motivada pela confecção e compartilhamento de croquis pelas comunidades kilombolas presentes.
O grupo também conheceu o Kilombo de Palmas, ouvindo histórias e andando pelo território em meio a caprinos e ovinos criados pela comunidade nos cerros de pedra e nas paisagens bem preservadas próximas ao rio Camaquã. A acolhida do grupo pelas famílias kilombolas de Palmas foi fundamental, garantindo pouso em suas casas e alimento típico de sua cultura. Destaca-se a importância da presença de muitas crianças e adolescentes neste encontro – que dialogou sobre identidade e direitos kilombolas -, como a pequena Luíza, do Kilombo de Ibicuí da Armada, que já canta “Eu sou da mãe África! Eu sou do Kilombo!”. Uma peça de teatro de bonecas, com temática antirracista, foi apresentada pelas mulheres do Kilombo Boqueirão, provocando a reflexão e a alegria de crianças e das pessoas adultas ali presentes. Tio Bico, morador do Kilombo de Palmas, também alegrou o grupo com seu violão. O encontro aconteceu na sede comunitária recentemente conquistada pela comunidade Kilombola de Palmas.
Durante o encontro também foi apresentado o Programa de Educação Antirracista da FLD, que recentemente teve um projeto voltado para a formação junto a mulheres kilombolas aprovado pelo Ministério das Mulheres. A equipe do projeto, composta por mulheres negras e kilombolas, participou do encontro e pode falar das atividades que em breve serão realizadas junto a 25 comunidades do Pampa, dando continuidade e intensidade ao processo de formação política, especialmente junto às mulheres.
Os Encontros de Formação de Operadoras e Operadores de Direitos Étnicos e Coletivos com enfoque Kilombola retomam com a próxima atividade online no dia 20 de novembro.