Iniciado em 16 e 17 de novembro de 2023, o processo de elaboração da Cartografia Social do Povo dos Peraus teve continuidade nos dias 23 e 24 de fevereiro de 2024, em Morro Agudo no município de Cambará do Sul (RS). Novamente, com o protagonismo da comunidade local, autodenominada Povo dos Peraus, que, em 1959, teve seu território tradicional sobreposto a uma Unidade de Conservação (UC) de proteção integral, o Parque Nacional de Aparados da Serra, passando a sofrer inúmeras violações de seus direitos enquanto comunidade tradicional.
A iniciativa, que terá ainda algumas etapas de elaboração coletiva, partiu de uma parceria com o Comitê dos Povos e Comunidades Tradicionais do Pampa e teve o apoio da Fundação Luterana de Diaconia (FLD).
O processo foi assessorado por Roberto Martins de Souza, docente do Instituto Federal do Paraná (IFPR), Marcelo Cunha Varella e Letícia Ayumi Duarte, docentes da Universidade Federal do Paraná (UFPR), que integram o Núcleo de Defesa dos Direitos de Povos e Comunidades Tradicionais (NUPOVOS), vinculado ao IFPR e orienta-se pelo Projeto Nova Cartografia Social.
Indígenas do Povo Laklãnõ-Xokleng da retomada Konglui, da Floresta Nacional (FLONA) de São Francisco de Paula (RS), também estiveram presentes manifestando seu apoio ao Povo dos Peraus e contribuindo com a reconstrução do processo de ocupação ancestral da região que, hoje, é conhecida como a Região dos Peraus (Cânions), no sul do Brasil.
A presença, na Oficina de Mapas, de outras identidades que também lutam pelos seus direitos étnicos e territoriais, como o Povo Indígena Laklãnõ-Xokleng, o Povo Cigano e Pecuaristas Familiares Tradicionais do Pampa, reconhece a autoafirmação social e identitária do Povo dos Peraus, e fortalece a luta coletiva pelos direitos de Povos Indígenas e de Povos e Comunidades Tradicionais.
Também se fez presente uma rede de apoio composta por docentes da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (UERGS) e da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), extensionistas da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (EMATER), dentre outras pessoas.
Cartografia Social
O processo de elaboração de uma Cartografia Social se constitui em uma autocartografia dos Povos e Comunidades Tradicionais que amplia o conhecimento sobre o processo de ocupação da região e se constitui em um instrumento de fortalecimento dos movimentos sociais e identitários daquele território.
Em reunião realizada no dia 9 de fevereiro, entre Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e representantes da comunidade do Povo dos Peraus, foi informado que um Grupo de Trabalho (GT) será criado no âmbito do ICMBio, que faz a gestão da UC, para dialogar com a comunidade. A comunidade está esperando pela criação desse GT, acreditando que a Cartografia Social, elaborada com base em conhecimentos tradicionais e científicos, certamente contribuirá com este processo de diálogo e acordos, a fim de que os direitos do Povo dos Peraus, que há tanto tempo têm sido violados, sejam reconhecidos e respeitados.