No dia do bioma Pampa, 17 de dezembro, à noite, na Assembleia Legislativa do RS, foi lançado pelo Observatório do Código Florestal o vídeo “Pampa: a força do bioma invisível” de 25 minutos, que revela a destruição do bioma, a presença – ainda extremamente invisível – de povos e comunidades tradicionais, e o avanço acelerado da conversão dos campos nativos em monocultivos de soja e silvicultura, especialmente de eucalipto.
O vídeo foi resultado de uma expedição pelo bioma, a Expedição Pampa, que faz parte de uma ação da rede do Observatório do Código Florestal que busca percorrer os biomas brasileiros para trocar experiências sobre a implementação da Lei de Proteção da Vegetação Nativa (Lei Federal nº 12.651/2012) do país.
A expedição percorreu cerca de 1.800 quilômetros em diversos municípios do bioma e contou com contribuições do Comitê dos Povos e Comunidades Tradicionais do Pampa, por meio de depoimentos de Daniel Roberto Soares (Kilombola), Maria Leci Vieira (Kilombola) e Fernando Aristimunho (Pecuarista Familiar Tradicional do Pampa) que acompanharam algumas atividades e filmagens.
O evento de lançamento do vídeo contou com a presença do Presidente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), Rodrigo Agostinho. Após a projeção, houve falas do presidente do IBAMA, de parlamentares, do coletivo de organizações socioambientalistas Coalizão pelo Pampa, e de representantes do Comitê dos Povos e Comunidades Tradicionais do Pampa. Participaram pelo Comitê, o pecuarista familiar tradicional do Pampa Fernando Aristimunho, a kilombolas Maria Leci Vieira, o kilombola Daniel Roberto Soares, a Yalorixá Lucia Clara Romero de Lima e a indígena Mbya Guarani Talcira Gomes.
Talcira Gomes, Mbya Guarani ressaltou que “não somos estranhos uns dos outros, somos mesma pessoa, somos gente” e expressou a sua compreensão indígena a partir do vídeo-documentário: “sabedoria, experiência, sentimento e proteção”.
Fernando Aristimunho pecuarista familiar tradicional do Pampa falou da caminhada de 10 anos do Comitê, da importância do vídeo e das pessoas presentes, comprometidas com a conservação do bioma, mas também ressaltou que o tema central para a defesa do bioma Pampa não está muito presente no documentário. Em nome do Comitê, Fernando afirmou que para defender o bioma Pampa a centralidade é a regularização fundiária para povos e comunidades tradicionais no bioma Pampa.
O kilombola Daniel (Mestre Pretto) falou da necessidade de colorir mais este tipo de eventos, onde em geral são homens brancos que compõe as mesas e cerimoniais. Também falou da esperança de que as crianças kilombolas consigam ter a titulação de seus territórios.
O Comitê entende que é urgente ampliar a visibilidade sobre a degradação do bioma Pampa e sobre a biodiversidade que vem se perdendo; mas que é ainda mais urgente ampliar a visibilidade sobre o racismo estrutural que sustenta a injustiça fundiária e as diversas formas de violência sobre corpos e territórios de povos e comunidades tradicionais. A proteção ao bioma Pampa passa por reconhecer e valorizar a enorme presença e sociobiodiversidade de povos e comunidades tradicionais no bioma Pampa, e sua relação ancestral com a conservação da biodiversidade.
Assista abaixo um trecho da manifestação do Comitê durante o lançamento do vídeo:
