Butiazal em chamas na cidade mais quente do Brasil: emergência climática no bioma Pampa

Butiazal em chamas na cidade mais quente do Brasil: emergência climática no bioma Pampa
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Imagem de 11 de janeiro do Butiazal de Quaraí. Fonte: Drone do Corpo de Bombeiros

No dia 9 de janeiro de 2025, focos de incêndio no Butiazal de Sal-sal e Quatepe, em Quaraí (RS), rapidamente tomaram conta de uma área assustadoramente grande, chegando próximo de residências. As famílias, apoiadas pelo Corpo de Bombeiros, fizeram a retirada do gado e evacuaram as casas em que havia risco de serem consumidas pelas chamas. Felizmente, não houve pessoas feridas, nem casas destruídas pelo fogo.

Durante o incêndio, integrantes da comunidade fizeram contato com a Defesa Civil e com emissoras de rádio e televisão que fazem cobertura à nível estadual, mas receberam pouca ou nenhuma atenção. A “cobertura” do incêndio, de grandes proporções e que consumiu mais de 1.108 hectares de ecossistema campo-butiazal (um terço da área total), foi feita pela própria comunidade utilizando as redes sociais. O Corpo de Bombeiros trabalhou intensamente por mais de 50 horas para conter o fogo, que se estendeu por 3 dias e foi controlado na madrugada do dia 12 de janeiro.

O Brasil de Fato publicou matéria sobre o incêndio no Butiazal de Quarai e a Rede Campo Sulinos também deu visibilidade ao fato.

O Butiazal de Quaraí, na Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul, divisa com Uruguai, é conhecido localmente como Butiazal de Sal-sal e Quatepe, pois se localiza em meio a essas duas comunidades, em uma região ambientalmente muito conservada e que tem resistido ao avanço do agronegócio, apesar da pouca atenção de políticas públicas específicas e adequadas para aquelas comunidades e região. A economia regional está baseada, em grande parte, na pecuária familiar em campo nativo, manejado em potreiros onde predominam o capim limão e espécies de Butia (Butia yatay).

O butiá já movimentou a economia da região, por meio da comercialização de suas folhas (crinas), do artesanato de sua palha, de polpas e alimentos processados a partir de seus frutos e de festas e cavalgadas no butiazal. As flores dos butiazeiros também são muito procuradas por abelhas Apis e melipôneas (abelhas sem ferrão) e há quem esteja apostando no mel de butiá. É um ecossistema de grande importância também para a fauna nativa, já que seus frutos são consumidos, não só pelo gado e ovelhas, mas também por emas e diversas aves (como jacu), mamíferos (como sorro ou graxaim), répteis (lagartos) e pequenos roedores.

O conjunto contínuo de coxilhas, forradas com capim limão e palmar de Butia yatay, onde a micro e a macro fauna nativa ainda encontram refúgio e onde a comunidade local – fortemente identificada com esta paisagem – concilia seu modo de vida e atividade econômica com as condições e potencialidades naturais, é paisagem única no bioma Pampa, no Rio Grande do Sul e no Brasil, e é considerada área prioritária para a conservação da biodiversidade do Pampa.

Um estudo sobre o Butiazal de Quaraí foi conduzido pela Fundação Luterana de Diaconia (FLD), em parceria com o Instituto Curicaca, entre os anos 2016 a 2018, visando compreender o sistema campo-butiazal e as dinâmicas de regeneração desta espécie, que é classificada, conforme a União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN; 2012), na categoria de “Vulnerável (VU)”, ou seja, o Butia yatay corre risco de entrar em extinção na natureza. Na época, além do estudo, foi implantado um viveiro desta espécie de butiá na comunidade e foram realizadas ações de educação ambiental na Escola Municipal João Tubino.

Cidade mais quente do Brasil

A cidade de Quaraí também vem registrando extremos de temperatura neste verão, com as maiores temperaturas do Brasil. O recorde foi em 4 de fevereiro, quando o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) registrou 43,8°C na estação meteorológica automática local, a maior temperatura oficialmente registrada no Rio Grande do Sul em 115 anos de medições. Essa já é a segunda onda de calor de 2025. A primeira ocorreu entre os dias 15 e 19 de janeiro.